Não é
brincadeira! O mundo vai acabar! Com toda certeza, um dia Deus será tudo em
todos, as coisas antigas passarão,contemplaremos o Filho do Homem vir nas
nuvens com grande poder e glória (Mc 13,26). Mas... “quanto àquele dia, ninguém
sabe, nem os anjos do céu,nem o Filho, mas somente o Pai” (Mc 13,24-32). É da
segunda carta de São Pedro a recomendação: “O que esperamos, de acordo com a
sua promessa,são novos céus e uma nova terra, nos quais habitará a justiça.
Vivendo nesta esperança, esforçai-vos para que ele vos encontre numa vida pura,
sem mancha e em paz. Considerai também como salvação a paciência de nosso
Senhor” (2 Pd 3,12-15). Aliás,já vivemos no fim dos tempos, desde que veio o
Senhor e Salvador, Jesus Cristo. Inaugurou-se,pela bondade de Deus, o tempo
novo. Somos por ele chamados a viver nesta terra antecipando e apressando o dia
de Deus (cf. 2 Pd 3,12).
Logo, nenhuma preocupação com o fim do mundo, mas muita ocupação
em viver neste mundo com justiça e piedade. Quando se completar a obra, esta
chegará ao seu término, estará pronta, chegará ao fim! Vale a pena buscar um
roteiro de viagem para a caminhada nesta terra, ocupando-nos com o que constrói
desde já o Reino de Deus, no qual também os seus filhos reinarão.
Temos uma virtude, que é dom de Deus recebido de presente no
Batismo,a esperança, que nos dá a certeza de não estarmos num beco sem
saída.Não fomos jogados neste mundo, como obra do acaso! Temos nome diante a
face de Deus, somos reconhecidos e tratados como filhos e destinados à
felicidade.O Pai do Céu fez este mundo como paraíso para suas criaturas, e é
nossa missão lutar para que ele seja assim e para todos. Daí, faz parte da
missão do cristão reconstruir, consertar, tomar iniciativa, espalhar o bem,
semear por acreditar na colheita, não só aquela do final dos tempos, mas as
muitas e sucessivas florações do jardim de Deus em torno a nós. Em qualquer
etapa da viagem, a meta é certa!
Não perder tempo, mas preencher com amor a Deus e ao próximo cada
instante da existência. Quem chega ao fim de um dia maravilhosamente cansado,
depois de ter feito o bem, será feliz e realizado. Nem terá tempo para medo de
escuridão ou dos inexistentes fantasmas que podem povoar a “louca da casa”, a
imaginação. Não terá medo da morte, pois sabe que ela um dia chegará no melhor
momento da existência de cada pessoa. É que Deus, sendo Amor,colherá a
flor da vida de cada filho ou filha no tempo certo, pois para ele um dia é como
mil anos e mil anos como um dia (Sl 89,4). Ninguém na ociosidade! Não perder
tempo!
Ao longo da estrada, há sinais oferecidos por Deus, mostrando o
rumo da viagem. Pode ser o irmão caído à beira do caminho, um grito que pede
atenção. Ali, há que descer da montaria de nosso orgulho ou falta de tempo,
derramando o óleo e o vinho do afeto (Cf. Lc 10,30-37), dando o que pudermos
para que aquele que caiu seja confiado à “estalagem” chamada Igreja, a quem cabe
cuidar da humanidade até o Senhor voltar! Muitas vezes será a palavra
anunciada, “oportuna e inoportunamente” (2 Tm 4,2), cujo som ecoa e chega ao
ouvido e ao coração. Até o Senhor voltar, sinal será a comunidade que participa
da Eucaristia, enquanto espera sua vinda, clamando quotidianamente “Vem, Senhor
Jesus”. Na Eucaristia, torna-se presente o sacrifício de Cristo, sua Morte e
Ressurreição. Mesa preparada, irmãos acolhidos, Céu que se antecipa e nos faz
missionários! Acolher a todos e fazer crescer a Igreja.
Quem escolhe o seguimento de Jesus Cristo prestará atenção nos
“sinais dos tempos”, aprendendo com as lições de sua história pessoal e dos
acontecimentos. Para dar um exemplo,ao ler ou ouvir as notícias diárias de
crises, crimes ou desastres, saberá ir além dos sustos ou escândalos. Ao invés
de achar que o fim do mundo está chegando, porá mãos à obra,buscando todos os
meios para que o dia de amanhã seja melhor do que hoje.Será sua tarefa ir além
das eventuais emoções oferecidas pelos acontecimentos, para edificar com
serenidade e firmeza o futuro. Se para tanto haveremos sempre de contar com a
graça de Deus, que ninguém se esqueça de que, após a criação do mundo, o
cuidado com tudo o que era “muito bom” (Cf. Gn 1,1-31) foi entregue ao homem e
à mulher.Responsabilidade!
Mais ainda! Quem olha ao seu redor, verá que a viagem se faz em
comunhão com outras pessoas. Ninguém tem todos os dons e todas as capacidades.
O apóstolo São Paulo já ensinava,comparando com o corpo a vida da Igreja (Cf. 1
Cor 12,1-31) o jeito de partilhar com os outros na aventura da existência nesta
terra.Enquanto caminhamos, é bom aprender as leis da eternidade, onde Deus será
tudo em todos. Partilhar os dons e os bens, superar a ganância e aproveitar
todas as ocasiões para estar com os outros, construindo um mundo de irmãos. Na
eternidade, não haverá luto, nem dor, egoísmo ou tristeza! É bom
antecipá-la!Assim, ouvir a Igreja que fala do fim dos tempos, será uma positiva
provocação a todos os cristãos. Atenção aos avisos de trânsito na estrada do
Reino definitivo: “A meta é certa!”; “Não perder tempo!”; “Acolher a todos e
fazer crescer a Igreja!”; “Responsabilidade!”; “Antecipar os valores da
eternidade!” Poderemos então rezar confiantes: “Senhor nosso Deus, fazei que
nossa alegria consista em vos servir de todo o coração, pois só teremos
felicidade completa servindoa vós, o criador de todas as coisas”. Amém!
Maranatha! Vem,Senhor Jesus! Amém!
Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo de Belém (PA)
Arcebispo de Belém (PA)
Fonte:http://cnbb.org.br
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