domingo, 22 de janeiro de 2012

Traídos pelo excesso de fé

Dias atrás, na estrada, enquanto dirigia meu carro e pensava em Deus – e, como milhares de crentes em Jesus, faço isso muitas vezes na solidão da estrada-, pus-me a pensar nos crentes históricos e nos crentes histéricos… Acabara de ouvir uma transmissão de rádio na qual o pregador afirmava ser impossível alguém ser feliz sem conhecer a Bíblia. A seguir apresentou a igreja dele como mais completo caminho de felicidade. Bela tirada de marketing, péssima teologia… Negava que um judeu que não lê o Novo Testamento, um budista ou um muçulmano possam ser felizes. Estava mais para histérico do que para histórico!
Ocorreu-me que os crentes históricos vêm de uma corrente de pensamento que foi se purificando e equilibrando e, hoje, são herdeiros de uma fé aberta, diastólica, capaz de diálogo, capaz de correção de rumo e capaz de aprendizado. Pensei, depois, nos crentes histéricos incapazes de aprendizado, incapazes de diálogo; que ficam irados quando descobrem que você não crê do jeito deles, ou que você pratica outra maneira de crer em Jesus. Lembram os motoristas impacientes que se irritam porque você obedece os 80km indicados pela placa e ele tem pressa de chegar, logo, ele está certo e você errado!


Alguns deles se mostram incapazes até mesmo de tomar um café no bar da esquina, perto de alguém de outra Igreja. Mas são casos extremos, Não é todo dia que alguém que se proclama crente em Deus jogo três aviões contra as torres e os prédios dos outros… O ato pode ser até político, mas na é sensato. Morrer pelos outros até pode ser sensato, mas matar inocentes por amor a uma causa não é.
Mas é preciso combatê-los agora e motivar os mais jovens a não aderir a eles, como não devem aderir à droga, antes que se tornem multidão. São esses crentes histéricos que constroem templos um ao lado do outro, na mesma rua e depois fazem guerra de som com seus cultos programados no mesmo horário; vão o juiz e ganham o direito de erguer seu novo templo a dois metros do outro já estabelecido ali e, depois, vão outra vez ao juiz para postular que no outro bairro se proíba outra religião de construir ao lado deles…
Seis templos na mesma rua não conseguiram até hoje, nem uma vez por ano programar um almoço, um jantar ou um café beneficente juntos. Acreditam que a fé do outro está cheia de bactérias e têm medo de chegar perto. Como acreditam que a sua é pura, cheia de assepsias, têm medo do contágio. Mal sabem esses crentes histéricos que algumas bactérias se formam no hospital, lugar que pareceria ser o mais seguro. Com seu preconceito sua teologia de eleição e exclusividade eles mesmos se encarregam de criar suas bactérias.
A verdade é que sem diálogo a vida e a fé tornam-se cada dia mais frágeis. Ou aprendemos a ser solidários ou nos condenamos a morrer solitários. Percebi nos meus 70 anos de vida que os que mais gritam que têm Deus, por sua vida e por seu procedimento, são os que mais demonstram não terem chegado nem perto do conceito de Deus. Primam pela incoerência. De certa forma somos todos incoerentes, mas eles abusam dela. Parece o sujeito que se agarrou a placa pensando ter chegado a Belo Horizonte. Mas convença um desses crentes histéricos, de qualquer Igreja que eles sejam, de que ele não conhece Deus e não tem Jesus como diz ter… Ele é capaz de odiá-lo ao constatar que você não acredita na pureza do seu amor por Deus…

Oremos para que Deus nos dê a graça de sermos crentes serenos e capazes de ouvir-nos uns aos outros. Será o começo de uma fé serena e forte!
                                                                                [Pe.Zezinho,SCJ]

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