O Papa Bento XVI recordou que "a Igreja não
deve temer as perseguições que em sua história se vê obrigada a suportar, mas,
como Jesus no Getsêmani, deve confiar sempre na presença, na ajuda e na força
de Deus, invocada na oração".
Ao retomar as catequeses sobre a oração na Audiência
Geral de ontem, o Papa evocou o "Pequeno Pentecostes" ocorrido em um
momento difícil para a Igreja nascente.
Os Atos dos Apóstolos narram que "Pedro e João
acabam de sair da prisão, depois de terem sido capturados por pregar o evangelho,
e se encontram com a comunidade reunida. Esta, ao escutar o ocorrido, não
procura como reagir ou defender-se, nem quais medidas adotar, simplesmente
reza".
O Papa explicou que "sua prece é unânime e
concorde, já que o que vive um irmão corresponde a todos. Não se atemoriza, nem
se desagrega, mas a sua união se fortalece, porque está sustentada pela oração.
Como o Senhor no Getsêmani, confia na presença, na ajuda e na força de
Deus".
O Papa explicou que "uma oração unânime e
concorde de toda a comunidade, que enfrenta uma situação de perseguição por
causa de Jesus porque o que vivem os dois apóstolos não afeta somente eles
dois, mas toda a Igreja. Diante das perseguições padecidas por causa de Jesus,
a comunidade nem se assusta nem se divide, mas está profundamente unida na
oração".
Quando os crentes se vêem submetidos à provação por
causa de sua fé, "a unidade, em vez de estar comprometida, se reforça, já
que está sustentada por uma oração incansável", acrescentou.
O Papa recordou que antes de compreender a fundo o
que aconteceu, a primeira comunidade tenta ler os acontecimentos através da fé
e o faz mediante a Palavra de Deus.
São Lucas narra nos Atos dos Apóstolos que a
comunidade de Jerusalém começou a recordar e invocar a grandeza e a imensidão
de Deus e depois, através dos salmos, passou a reconhecer como Deus tinha
atuado na história estando perto de seu povo, "demonstrando que era um
Deus que se interessava pelos seres humanos que não os abandonava".
"Ao rezar, lê a Escritura à luz do Ressuscitado
e compreende sua própria história dentro do projeto divino; não pede sair ileso
do perigo, nem o castigo dos culpados, somente ‘valentia para anunciar’ a
palavra de Deus e que Ele acompanhe este anuncio com sua mão poderosa".
Continuando, os eventos são lidos "à luz de
Cristo, que também é a chave para entender a perseguição. A oposição para
Jesus, sua Paixão e sua morte são relidas como atuação do projeto de Deus Pai
para a salvação do mundo. Na oração, a meditação sobre as Sagradas Escrituras à
luz do mistério de Cristo ajuda a ler a realidade presente no âmbito da
história da salvação que Deus cumpre no mundo".
Daí que a petição que a primeira comunidade cristã
de Jerusalém formula a Deus na oração "não seja a de ser defendida, nem a
de salvar-se da prova nem de ter êxito, mas a de proclamar com franqueza, com
liberdade, com coragem, a Palavra de Deus".
E os primeiros cristãos acrescentam que esse anúncio
"esteja acompanhado da mão de Deus, para que haja curas, sinais e
prodígios; quer dizer, que uma força que transforme a realidade, que mude o
coração, a mente e a vida de homens e que contribua à novidade radical do
Evangelho".
"Também nós devemos levar os acontecimentos da
nossa vida cotidiana à nossa oração, para procurar seu significado mais
profundo. E como a primeira comunidade cristã, também nós, deixando-nos
iluminar pela Palavra de Deus, através da meditação da Sagrada Escritura,
podemos aprender a ver que Deus está presente em nossas vidas, mesmo em tempos
difíceis, e que tudo forma parte de um desenho superior de amor no qual a
vitória final sobre o mal, sobre o pecado e a morte, é realmente a vitória do
bem, a da graça, a da vida, a de Deus".
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