quarta-feira, 28 de setembro de 2011

MPB: “coisas” da gente

“Prepare o seu coração pras coisas que eu vou contar. Eu venho lá do sertão e posso não lhe agradar”. Ao escutar esta expressão, todo nosso ser já se enche de vontades de dizer sim e dizer não na medida das ações e dos sentimentos explorados nos mais híbridos instantes vividos. A palavra “coisas’ nos impulsiona a pensar em “aspectos mil” sobre nossa vida, sobre nossa música, sobre nossa forma de ser e cultivar a cultura que temos, num universo também de maneiras mil de lidar com o tempo da essência de cada momento.
São vários os sentimentos como vários são os acontecimentos e, neste sentido, adentramos às coisas que queremos contar para que o mundo veja e possa transladar aos quatro cantos aquilo que somos, sentimos e fazemos. Ninguém melhor para mostrar o Brasil do que aqueles que têm na pele a cor sobrepujante da arte e da sensibilidade estética do “mostrar” o que tem de mais positivo e construtivo para os outros. Este exemplo, por muito tempo, foi a tônica de nossa história musical. Num Brasil diverso, uma canção diversa; num Brasil de cores, cores mil inundam a criatividade de nossa gente e, na música, afinal, se deleitam os mais complexos e desvendáveis mistérios e sentimentos. É na música que se definem gostos e se mostram ações.
Com esta disparada, corremos juntos em busca da melhor amostragem das coisas que temos e somos, colocando a banda para tocar nos gêneros mais difusos que abarcam diversas tendências durante décadas. É esta diversidade que vai às praças, às ruas, numa sonoridade sem fim que nos enleva na mais profunda razão de cantar; é o que, talvez, hoje, esteja faltando à mocidade: vontade de cantar. Porque há muito se perdera o gosto pela sonoridade, pela musicalidade que, por natureza, está em nosso íntimo como água que sustenta a seiva, elaborando vida.
Nossa música popular brasileira surgiu num declínio da bossa nova, gênero inovador da música brasileira dos anos 50 que passa por transformações com o aparecimento de novos compositores. Lembrar de “Arrastão” de Vinícius de Morais é fazer jus ao que temos de melhor em nossa música. Quem dera nosso mundo musical de hoje deixasse os arrastões e se inspirassem no Arrastão defendido por Elis Regina em festival em 1965! Uma verdadeira defesa que une voz e fala num contexto de lutar pela estética musical, dizendo como nosso poeta maior, Carlos Drummond de Andrade: “Lutar com palavras é a luta mais vã; no entanto, lutamos, mal rompe o amanhã”. Lutar, lutar, lutar é o grito de ordem que precisa ser dado a cada instante para que não morram as letras, para que não se percam os sons articulados, mas se perpetuem para o sempre o grito de alerta dado pelas composições que enaltecem a vida em primeiro plano.
No hoje da música, muitas vezes nos pegamos com sentimentos de perdas e até medos em não mais nos encontrar enquanto peles sonoras, porque a enxurrada tem levado para distante as composições que eternizam as alegrias e transformam angústias em serenidade, “mas sei que uma dor assim pungente não há de ser inutilmente...” Um dia, quem sabe, descobriremos um caminho que seja de glória e traga de volta  “a esperança que dança na corda bamba, de sombrinha...” mas encontra caminhos de prosperidade.

Milton Dantas
Coordenador da Pastoral da Criança
Arquidiocese de Natal

Nenhum comentário:

Postar um comentário