quarta-feira, 10 de agosto de 2011


O CORPO COMO PRODUTO

Atrás da catedral, à porta de uma farmácia, a prostituta visivelmente jovem, bonita e semi despida, propunha um programa. Um velho senhor, seguramente pela casa dos setenta anos, sem o mínimo pudor aproximou-se e saiu com ela para um programa. Quem viu e ouviu deve ter pensado o que se pensa ao ver nas esquinas de grandes avenidas, prostitutas e prostitutos a oferecerem seus jovens corpos: estão lá porque alguém paga por aqueles momentos de sexo.
Ocupam-se disso livros sérios e acadêmicos, além de centenas de estudos sobre o que se chamou de vagabundagem, ou de profissão e de prestação de serviços. Houve governos e até religiões que lucraram com a venda do corpo feminino. Por ser atividade altamente rentável não se deixou a indivíduos o controle deste comércio, cuja mercadoria é o corpo humano, principalmente o da mulher.
Através dos séculos, a grande maioria dos povos e governos, as grandes religiões do mundo e ultimamente, milhares de pequenas religiões, continuam sem saber o que fazer com as jovens mulheres que vendem seus corpos, tanto quanto não se sabe o que fazer com o usuário de crack. Há quem compre, quem consuma e quem venda. E é atividade que a vítima não abandona com facilidade.
Extensa literatura, inclusive textos dos livros sagrados do Judaísmo, do Budismo, dos cristãos e dos muçulmanos mostra este comportamento como um desvio, às vezes punido com a morte, às vezes aceito e regulamentado, às vezes visto como humilhação para a família e para a própria mulher. Não obstante, desde que há registros de agrupamentos humanos organizados, lá estão elas ganhando dinheiro com seus jovens corpos. Algumas chegaram a influenciar reis e imperadores, outras derrubaram até fundadores de igrejas, pregadores famosos e políticos de renome. Mas grande número delas foi vítima de violências inauditas, posto que vender o corpo tornou-se um tipo de escravidão.
Perto do templo aonde vou para a eucaristia várias delas se postam nas esquinas ao cair da noite. Não há como não vê-las. Duas ou três já morreram vítimas dessa vida cheia de riscos.
Desde a ultima grande guerra fala-se em 100 milhões as chamadas trabalhadoras do sexo no mundo inteiro. E há quem diga que o número ainda é tímido. É de se duvidar se tais estatísticas tenham existido. O que se sabe é que, onde foi feita, contabilizou-se de mil a duas mil prostitutas por 100 mil habitantes, aproximadamente 1 a 2% da população. Mas a maioria das cidades jamais se importou com este estudo, exceto algumas universidades e algum departamento de igrejas. Reprime-se, controla-se, isola-se, ou se faz vistas grossas a esta atividade na qual, em geral, as maiores prejudicadas são as próprias prostitutas. E não esqueçamos o cinema e a televisão com suas imagens que mais sugerem do que retratam…
A moça de menos de 20 anos que oferecia seu corpo à frente da farmácia encontrou quem pagasse. E é porque há quem pague que a atividade jamais entrou em colapso. O corpo feminino tem sido umas das mercadorias mais expostas através dos tempos. Alguns corpos ajudam a vender roupas, tecidos e até cigarro e cerveja; outros vendem sexo.
Se é verdade que nem toda mulher que trabalha como corpo é prostituta, para aquela que vende sexo por alguns minutos fica difícil provar que não vendeu sua pessoa. Não é que o corpo seja uma coisa e a mulher, outra! Mas como as mulheres não são as únicas pessoas que se vendem por dinheiro, o estudo teria que se estender a empresários, políticos, religiosos esportistas e a outras atividades. Muitos deles também se vendem.
Recentemente um político mudou de partido ante a perspectiva de um cargo no governo. Um pregador mudou de igreja ante a oferta de um veículo de comunicação. Um animador deixou seu posto pelo dobro oferecido pela emissora concorrente. Os dois verbos: vender e vender-se continuam altamente questionadores. Quem vendeu o quê e por quanto? Quem não se vendeu no ato de vender? São perguntas mais do que filosóficas!…

Pe. Zezinho SCJ

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