“Quanto
a vós, ditosos os vossos olhos, porque veem, e os vossos ouvidos, porque ouvem.
Em verdade vos digo: muitos profetas e justos desejaram ver o que estais vendo,
e não viram, e ouvir o que estais ouvindo, e não ouviram!” (Mateus 13,16-17).
Jesus
faz com que os Seus discípulos sintam a grandeza do dom recebido. Ele não lhes
fala do Reino de Deus em parábolas, pois estas velavam uma doutrina que a
interpretação de muitos poderia deturpar em sentidos nacionalista e material. A
eles, dóceis e humildes, Jesus comunicava a interpretação exata das parábolas:
a felicidade e a salvação são para todos, acima de tudo para os oprimidos, os
frágeis, as mulheres, os excluídos, os pequeninos, os estrangeiros e os pobres;
a origem desta redenção eterna é Deus, que Ele anuncia como Pai, Filho e
Espírito Santo.
Sem
dúvida, Ana e Joaquim pertenciam ao grupo de judeus piedosos que esperavam a
consolação de Israel, e a eles foi dada uma tarefa especial na história da
salvação: foram escolhidos por Deus para gerar a Imaculada que, por sua vez, é
chamada a gerar o Filho do Senhor.
Estamos,
hoje, celebrando o dia de São Joaquim e Sant’Ana, os pais da
Bem-Aventurada Virgem Maria. Esta não podia deixar de irradiar a graça totalmente
especial da sua pureza, a plenitude da graça que a preparava para o desígnio da
maternidade divina.
Podemos
imaginar quanto estes pais receberam dela, ao mesmo tempo que cumpriam seu
dever de educadores. Mãe e filha estavam unidas não apenas por laços familiares,
mas também pela comum expectativa do cumprimento das promessas, pela recitação
multiforme dos Salmos e pela evocação de uma vida entregue a Deus.
Sant’Ana
e São Joaquim são modelos por sua santidade vivida em idade avançada. Em
conformidade com uma antiga tradição, eles já eram idosos quando lhes foi
confiada a tarefa de dar ao mundo, conservar e educar a Santa Mãe de Deus.
Na
Sagrada Escritura, a velhice é circundada de veneração (cf. 2 Mac 6, 23). O
justo não pede para ser privado da velhice e do seu peso; ao contrário, ele
reza assim: “Vós sois a
minha esperança, a minha confiança, Senhor, desde a minha juventude… Agora, na
velhice e na decrepitude, não me abandoneis, ó Deus, para que eu narre às
gerações a força do vosso braço, o vosso poder a todos os que hão-de vir”
(Sl 71 [70], 5-18).
Com
a sua própria presença, a pessoa idosa recorda a todos, de maneira especial aos
jovens, que a vida na terra é uma “curva”, com um início e um fim. Para
experimentar sua plenitude, ela nos exige a referência a valores não efêmeros
nem superficiais, mas sólidos e profundos.
Infelizmente,
um elevado número de jovens do nosso tempo são orientados para uma concepção da
vida em que os valores éticos se tornam cada vez mais superficiais, dominados
como são por um hedonismo imperante. O que mais preocupa é o fato de que as
famílias se desagregam à medida em que os esposos atingem a idade madura,
quando teriam maior necessidade de amor, de assistência e de compreensão
recíproca.
Os
idosos que receberam uma educação moral sadia deveriam demonstrar, mediante a
sua vida e o próprio comportamento no trabalho, a beleza de uma sólida vida
moral. Deveriam manifestar aos jovens a profunda força da fé, que nos foi
transmitida pelos nossos mártires, e a beleza da fidelidade às leis divinas da
moral conjugal.
Teremos
nós os olhos e os ouvidos abertos para reconhecer um mistério tão excelso?
Peçamos a Sant’Ana e a São Joaquim não só para ver e ouvir a mensagem de Deus,
mas, inclusive, para participar dela com amor pelas pessoas com as quais nos
encontrarmos, no Seu amor, em particular transmitindo luz e esperança a todas
as nossas famílias. Confiemos, de maneira especial a Sant’Ana, as mães,
sobretudo as que são impedidas na defesa da vida nascente ou que encontram
dificuldades para criar e educar os seus filhos.
Padre
Bantu Mendonça
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