Presidente
da Administração do Patrimônio da Sé Apostólica: na base da crise financeira
estão os comportamentos alheios ao evangelho
Cardeal
Domenico Calcagno
Reproduzimos a seguir o
pronunciamento do cardeal Domenico Calcagno, presidente da Administração do
Patrimônio da Sé Apostólica, durante a décima quinta congregação geral do
Sínodo dos Bispos, em 17 de outubro de 2012.
***
Nos
cenários da nova evangelização, passamos de uma resistência e de uma oposição
muito forte contra Deus e contra a Igreja para um tom mais suave, que, no
entanto, afetou a vida diária ao provocar uma mentalidade hedonista e consumista,
que vem banalizando muitos valores e dando prevalência prática àquilo que
tornava possível a obtenção dos fins pretendidos, ou seja, o dinheiro.
Se é
verdade que “homo sine pecunia imago mortis” [em latim, “o homem sem dinheiro é
a imagem da morte”, ndr], também é verdade que a fome deplorável de riqueza já
contagiou muitos cristãos. A Igreja, desde sempre, enfrenta o problema da
economia dentro do quadro mais amplo dos direitos do homem e dos povos, bem
como do destino universal dos bens. As primeiras experiências de comunhão de
bens foram esclarecedoras para aqueles que viviam na primeira comunidade
cristã.
Não
foi possível prosseguir aquela experiência, mas, no decorrer dos séculos
seguintes, várias vezes, as iniciativas da Igreja nos campos econômico e social
foram muito concretas. Assim, a comunidade cristã tem sido promotora de
experiências humanas e de solidariedade que vão além da necessidade de
testemunhar a caridade, porque tocam o próprio domínio da justiça. Hoje não
vivemos somente o tsunami da secularização, mas também o tsunami da crise
financeira, que tem as suas raízes plantadas em comportamentos que não se
coadunam com o evangelho.
Como
no passado, também hoje a Igreja deve ser capaz de descobrir uma maneira de
lidar com a economia que respeite a "ecologia da pessoa humana", como
diz o papa Bento XVI na Caritas in Veritate, em seu número 51.
"É,
portanto, principalmente por meio da sua conduta e da sua vida que a Igreja
evangelizará o mundo. Ou seja, é através do seu testemunho vivido de fidelidade
ao Senhor Jesus, de liberdade perante os poderes deste mundo; em uma palavra,
de santidade" (Paulo VI, Ev. Nun. 31-32). Trata-se de uma solicitação que,
sem dúvida, é provocativa, e que deveria converter qualquer um dos nossos
estilos de vida eclesiástica.
Quem
está em busca de sentido para a sua vida, ou está angustiado com as
dificuldades do tempo presente, poderá nos seguir somente se tiver a esperança
de que, seguindo o nosso caminho enraizado em Cristo, estará no caminho da
salvação.
(Trad.ZENIT)
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