+Dom Walmor Oliveira de Azevedo (05/10/2012)
Às vésperas das
eleições municipais é oportuno ecoar o sentido e o alcance da ida às urnas como
compromisso cidadão. Trata-se de um dever com determinante importância nos
rumos dos municípios no próximo quadriênio. Um tempo que não é longo, mas, se
for perdido, por incompetências ou por falta de envergadura moral, contabiliza
prejuízos que se desdobram durante décadas.
Não se pode arriscar
entregando governos municipais e responsabilidades de vereança a quem carece de
competências para fazer avançar cada um dos municípios. A campanha eleitoral
foi oportunidade para todos acompanharem as propostas, os programas de governo
e os compromissos. Sabe-se, contudo, que o acompanhamento da campanha
eleitoral, especialmente pelos meios de comunicação, embora muito importante,
não tem a força necessária para o adequado discernimento nas escolhas dos
candidatos.
Muitos eleitores
estão indecisos, outros já planejam votar em determinado candidato, mas ainda
há tempo de confrontar suas escolhas a partir de critérios éticos. Ressalvada a
sua importância, o ideário partidário não é suficiente para decidir em quem
votar. Na verdade, às vésperas das eleições, cessada a campanha eleitoral, por
dispositivo legal e controle das instâncias competentes, é importante deixar
ecoar os critérios éticos e morais para balizar escolhas adequadas. Já não é
mais, portanto, campanha eleitoral, mas o início daquela etapa em que o eleitor
é chamado a recolher-se no mais recôndito de sua consciência.
Nesse exercício, o
cidadão deve sopesar critérios éticos e morais, necessidades e competências,
além de avaliar, no seu município, o que está em andamento, o que é necessário
e urgente, para escolher bons candidatos. O voto secreto, além do respeito à
liberdade e autonomia de cada pessoa na sua escolha, é também referência ao
confidencial da consciência, que precisa ser iluminada suficientemente para não
se escolher por razões frágeis. No horizonte, deve sempre estar a importância
do compromisso cidadão, sua repercussão na vida da sociedade e de cada pessoa.
Esse momento tem,
portanto, grande importância no fortalecimento da democracia brasileira, e
incidência determinante na vida cotidiana. Não se pode entregar a
responsabilidade de governar a quem não consegue corresponder às exigências próprias
dessa missão. É preciso escolher aqueles que estão verdadeiramente
comprometidos com a tarefa de construir uma sociedade mais justa. O executivo
municipal tem que ser caracterizado pela rapidez nos encaminhamentos e
respostas e não por discursos repetitivos, retóricos e estéreis. Deve buscar,
criativamente, o uso de recursos, parcerias e projetos que debelem atrasos
históricos na solução de questões habitacionais, educacionais, saúde,
transportes e outras. Também não se pode arriscar na formação de uma câmara
municipal que burocratiza, emperra processos ou funcione na estreiteza das
dinâmicas cartoriais.
Mais importante do
que o partidário é considerar a força da ética e da moral no processo eletivo.
É indispensável avaliar a condição moral de cada candidato. Não é por simples
moralismo. Ora, sem autoridade moral a competência pode resvalar em direções
contrárias ao bem comum. A autoridade a ser exercida num cargo político também
não pode ancorar-se apenas na competência técnica. Mais importante é deixar-se
guiar pela ordenação moral. Uma ordem que é sustentadora e tem a força para
promover o desenvolvimento de competências técnicas e fidelidades partidárias.
A Presidência da
Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em nota, sublinha que “o político
deve cumprir seu mandato, no Executivo ou no Legislativo, para todos,
independentemente das opções ideológicas e partidárias.” Incentiva, também, “a
sociedade organizada e cada eleitor em particular, passadas as eleições, a
acompanharem a gestão dos eleitos, mantendo o controle social sobre seus
mandatos e cobrando deles o cumprimento das propostas apresentadas durante a
campanha. Quanto mais se intensifica a participação popular na gestão pública,
tanto mais se assegura a construção de uma sociedade democrática.” As eleições
são uma festa da democracia. Que esta festa seja vivida com a mais lúcida
consciência deste compromisso cidadão, construindo um tempo mais promissor nas
cidades.
Dom Walmor Oliveira
de Azevedo
Arcebispo
metropolitano de Belo Horizonte
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